segunda-feira, 23 de maio de 2016

Amanhã

Amanhã vamos ao médico e ontem tive mesmo que tomar um ansiolítico. 
Começo a ficar extremamente ansiosa, um aperto no peito, a garganta a fechar, a respiração acelerada, palpitações, parece que vou explodir. Já pensei seriamente em marcar uma consulta de psicologia ou psiquiatria, não sei, algo que me possa ajudar com esta ansiedade que tende a consumir-me em dias destes, mas falta-me a disponibilidade física e emocional para o fazer. Quero resolver as coisas por mim, mas depois não consigo, e fico assim meio sem sal, não sei como o desgraçado do marido aguenta.
O que me assusta nesta consulta e que já sei de antemão que vai acontecer é que o médico vai mandar fazer uma porrada de exames, e eu detesto fazer exames, depois para mim, nunca é demais falar de nomes como o fsh e a anti-mulleriana. Tenho muito medo que o fsh esteja alto que a anti-mulleriana esteja baixa. Falar da anti-mulleriana...o marido não percebe ou parece não querer perceber, ou não quer dar demasiada atenção para não me incentivar a stressar. É que se a anti-mulleriana estiver a 0,1 o sonho termina aqui, não vou ser mãe biológica. Ponto. E vamos lá a ver, por mais que uma pessoa seja forte e bem resolvida isto é algo muito difícil de ouvir. Infelizmente já várias mulheres, até mais novas do que eu, passaram por este pesadelo, por este horror, por esta dor. Algumas recorreram à doação de ovócitos, outras pararam por aqui e adoptaram ou realmente aprenderam a viver sem filhos com mais o menos dor associada. Mas não me imagino no lugar destas mulheres, não me vejo com estofo para isso, é demasiado difícil, preciso escrever sobre isto, preciso exorcisar.
E como eu sou eu preciso prever o pior cenário, para seguir em frente, mas este cenário realmente não consigo considerar, não me imagino a receber um resultado destes e a seguir ir trabalhar e enfrentar o mundo, porque é como se uma parte de nós morresse, secasse para todo o sempre, é a morte do maior sonho da minha vida. Ao fim ao cabo é a morte de um filho que não existe fisicamente, mas que é já tão tão amado, tão sonhado. Como se reage a uma coisa destas? 
Estamos a viver esta caminhada sozinhos (e convosco), apenas o casal, mais ninguém sabe. Ninguém faz ideia que vamos entrar nas consultas de infertilidade, e do que vou enfrentar, de modo que não posso falar isto com mais ninguém, não posso pedir colo a ninguém sem ser ao pobre do marido que teve o azar de ser eu a calhar-lhe na rifa.

Posso escrever e escrever mas nada alivia o meu sofrimento e a ansiedade que sinto nesta incerteza, que tem sido a nossa vida nestes dias, nestas semanas, nestes meses, nestes anos, até, desde que sei que tenho endometriose. Queria ser mais forte, vejo histórias como a da Susana Pina e da Marta Casal que também tem endometriose, e arrepio-me até aos ossos. Que força, que coragem, e eu sou só um ratinho ao pé delas e já me sinto assim.

Maldita doença, maldita endometriose, gatuna, ladra de sonhos e alegrias, ladra de vidas. Como te odeio endometriose. Maldita infertilidade. Roubem-me tudo, mas não me tirem o meu sonho de ser mamã.

1 comentário:

  1. Vais ver que correr tudo bem :)
    Eu sou exatamente igual... espero sempre o cenário pior para tudo... parece que assim estamos prontas para o pior. O pior é que não estamos.
    Nunca deixas de acreditar :)

    ResponderEliminar