terça-feira, 23 de agosto de 2016

A consulta na IVI, o turbilhão de sentimentos e as saudades da mia

Dia 12 foi dia da consulta na IVI, foi dia de relembrar, ao fim de 5 anos de quase tréguas com a endometriose, que ela está aqui para ficar e não tenciona manter a boa vizinhança.
O dr. Sérgio é um médico acessível, simpático, pragmático, mas também atencioso. Gostámos dele. Após recolher cautelosamente a história médica, e reprodutiva dos dois, e de falar mais em específico sobre as minhas doenças, o Dr. viu com atenção os exames que já fizemos. Explicou-nos então a fisiologia da reprodução e relembrou-nos que um casal saudável, sem qualquer problema tem cerca de 25% de hipótese de engravidar em cada ciclo. Somos os seres mais inférteis de sempre, nós, os tão desenvolvidos e racionais seres humanos.
Depois de nos mostrar as probabilidades de cada técnica de PMA, fomos para a ecografia.
Na ecografia quisto folicular grande à esquerda e endometrioma à direita, pequeno, sem indicação cirúrgica. Enquanto o Dr. dizia, que do meu útero tinha boas notícias, pois a conformação era normal e nem parecia que tinha a adenomiose que tem, eu só pensava here we go again.
Na restante parte da consulta o médico tentou sem êxito acalmar-me, já vi e li demasiado, um erro eu sei. Não ouvi histórias de endometriomas que desaparecem, mas muitas de endometriomas que ficam gigantes que aumentam com a menstruação, quanto mais com tratamentos. O Dr. aconselhou-nos a fazer consulta no inicio do ciclo e partir para IIU se o quisto folicular já tivesse desaparecido. E assim terminou a consulta. Resumindo, hipóteses de IIU não são altas, anti-muleriana não é horrível, mas não é boa, mas para o Dr. Sérgio vale a pena tentar. Tenho um endometrioma, o meu maior medo e pavor. Porquê? Porque os endometriomas diminuem por si só a reserva ovárica, já para não falar de quando têm que ser removidos.
E agora? Chorei durante a viagem toda e o resto da manhã, com pena de mim, com pena do meu marido, infeliz com a minha triste sina, o meu pobre futuro, que triste é sentirmos pena de nós próprios... Tive que enxugar as lágrimas, erguer a custo a cabeça baixa e ir trabalhar. Tive que continuar a viver... Apetecia-me dormir e não acordar mais para este pesadelo que é a minha vida neste momento. Devia procurar ajuda, porque me sinto verdadeiramente em baixo, deprimida talvez seja a palavra. Mas nem para isso parece que sinto força.
O pensamento positivo que tinha vindo a manter, a custo, desde que soubemos o que se passa com a minha avó, a balança que andava a tentar equilibrar, não só se desequilibrou como se partiu em mil pedaços. 
Os meus níveis de energia estão abaixo de zero. Tenho estado com dores em especial do lado do quisto folicular que me causa compressão no útero e na bexiga e sinto-me desconfortável de todas as formas, não havendo medicação que alivie este efeito de compressão.
Estou com spotting desde este sábado, como em todos os ciclos, religiosamente ao dia 22 do ciclo à tarde ele aparece. Nesse dia tive uma festa a que tive mesmo de ir. Neste momento, à minha volta, quem não tem um bebé está grávida. Eu, com um bebé ao colo tive que ouvir um sr do catering a dizer-me estas palavras: é fácil fazer um! Eu sei que me estou a alongar e a divagar e a escrever coisas sem muito sentido, eu sei que o pobre senhor não tem culpa, coitado,  mas pergunto-me o porquê de ter que ouvir isto? De ter que lidar com esta situação? Pergunto-me de forma egoísta, porquê eu? Mais do que nunca, porquê eu? Todas as conversas ao meu redor giram em torno de bébés e fraldas e gravidezes e eu ali no meio seca, vazia, mutilada na alma e com uma pedra dura e fria no lugar onde antes estava um coração mole e afectuoso.
Juntamente a isto a minha avó já tem dia de cirurgia que calha no dia em que devíamos voltar à IVI para fazer consulta de início de ciclo, ver se o quisto folicular já tinha desaparecido e começar preparação para IIU. Mas não dá. 4a feira virá a menstruação e irei começar a minha pílula a ver se os quistos diminuem e vou a consulta com o meu médico de endometriose para saber a opinião dele. Preciso de colocar uma ordem nisto.

Mia, não sei se estás por aí. Percebo, perfeitamente, que te queiras refugiar que queiras paz e tentar pensar noutras coisas noutros assuntos, que queiras recompor-te do extremo sofrimento a que foste sujeita, só quero que saibas que já temos saudades tuas e que te apoiamos sempre em qualquer que seja a tua decisão.


terça-feira, 2 de agosto de 2016

Esta semana #2

Esta semana, foi também semana de vir o sr red. Estamos bem, eu e ele, obrigada por perguntarem, este ciclo foi um ciclo de um outro brufen, lucky me, não estou a ser irónica, endogirls, you know it!!
Não me lembro se já vos mencionei, que estamos proibidos de engravidar, (lol) até me dá vontade de rir... Hum, proibida de engravidar? A sério? Acho que não consigo cumprir essa ordem...Sou fértil como uma coelha... Anyway... 
O endocrinologista explicou que devido ao hipotiroidismo, que possuo na minha estimada colecção de doenças crónicas, não posso engravidar enquanto a TSH, não estiver em valores que rondem os 2 mUI/L e não os 10, que é como está agora. O hipotiroidismo aumenta a probabilidade de abortos no primeiro trimestre, por isso devemos assegurar-nos que os valores hormonais estão dentro dos padrões normais e só aí engravidar (peanuts). Assim sendo, este mês não houve matervita, nem projeffik na segunda metade do ciclo. O matervita já não estava a tomar, pois como diz o endocrinologista : você está descrente. Pois estou. Claro que estou. 
Este ciclo começo a ter spotting ao dia nem sem sei quantos, mas muito antes do 22º dia que é o dia em que espero por ele e com quem partilho casa até ao dia 26, dia esse em que vem juntar-se a mim o sr red, contando assim um maravilhoso e anormalóide ciclo de 25 dias. Então, (deixa cá fazer contas para depois explicar isto na consulta na/no IVI de dia 12 de Agosto) o spotting leve começou dia 17 do ciclo, durou até ao 20º e depois parou. What? Isto nunca me tinha acontecido, foi completamente diferente de todos os spottings do mundo encantado da Dream! E o que é que isto poderia significar na minha cabeça de adolescente esperançosa e acreditadeira que os milagres não são um mito urbano? Era, claramente, uma gravidez! Claramente, estava grávida! Era óbvio, dizia o neurónio Tico ao neurónio Teco, enquanto o Teco dizia ao Tico, que não, não era nada disso, era só mais uma anormalidade no meio de tantas! Eu cá queria era acreditar no Tico, porque estou a ficar farta do Teco! Era um milagre pois, ainda que timidamente acreditado, um enorme milagre no quotidiano desta criatura, que tem levado porrada da vida daquelas de criar bicho! Era tão eu (coff coff), não podia engravidar e pumba, engravidava e corria tudo bem, era uma maravilha, sempre sonhei secretamente em ser aquela pessoa a quem sai aquele maravilhoso jackpot de ir fazer a anti-mulleriana e afinal estava grávida! Não aconteceu. De ir fazer uma ecografia de controlo de endometriose e não é que estava grávida? Não aconteceu. De ir à primeira consulta de infertilidade e não é que estava grávida? Não aconteceu.
E agora, pois claro, também não aconteceu. Não sou pessoa de ganhar o jackpot, está visto. O Teco é que tinha razão, como sempre aliás, e o período lá veio no sábado, a perfazer um rico ciclo de 25 dias.
Todas estas dúvidas vieram alegrar um pouco mais e descansar ainda mais a minha já maravilhosa e paradisíaca semana de férias (not).
Mas isto ainda melhora, anúncios de gravidezes de segundos e terceiros filhos a dar com pau, carrinhos de bébé são mais que pokemons, um nascimento "olha lá a foto" e eu vazia de sentimentos amorosos e calorosos, qual Cruella de Vil.

Quando as únicas pessoas de quem eu queria saber de uma gravidez, não conseguiram, e depois vêm os porquês, o choro, a indignação, o sentimento de injustiça, a tristeza e a dor profunda de saber que não conseguimos alcançar algo que, CARAMBA, é nosso por direito. P$#& de vida!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Esta semana#1

A semana de férias veio e foi, passou como uma rajada de vento. O lugar ao sol numa praia qualquer, não existiu. Primeiro, porque na última hora o meu marido não pode tirar as férias que estavam, tal como as minhas, marcadas há meses, devido há irresponsabilidade e há falta de ambição e do tal brio profissional que eu tanto prezo, mas que tanta falta faz a alguns. Depois, porque soubemos da doença da minha boneca e não havia cabeça para estar de férias, para ser feliz.
Nesta semana fizemos também um aninho de casados. Bodas de papel. Parabéns a nós, que neste ano já ultrapassámos mais do que alguns casais numa vida inteira. Doenças, a perda de algo muito desejado e o falhanço a cada mês que passa. Não tem sido fácil, mas também não abalou o amor, abalou horas, abalou dias e noites, mas não o amor.
Esta semana não foi boa.
Andava a contar os dias para estar de férias, mesmo ao género de presidiário no final da pena. Faltam 9, faltam 5... mas depois as más noticias, engoliram a minha felicidade, sugaram-ma. 
A falta de saúde, a doença e em particular o cancro assustam-me, fazem-me estremecer, fazem-me sentir a desorganização, a morte, bem perto. Cancro não é morte, claro que não! Mas saber que aquela célula, decidiu naquele dia começar a multiplicar-se de forma desordeira, sem que nada a pudesse travar faz-me sentir uma gota de água no oceano, faz-me sentir frágil, exposta, amedrontada. Saber que nada podemos fazer para travar aquela decisão, daquela célula, naquele momento é mesmo assustador. 
Lidar com esta doença assim, mesmo encostada a nós é difícil, é preciso chorar, deitar cá para fora toda a angústia que de repente nos invade a alma, pensar na perda, sentir um amor tão grande e ver a perda assim tão perto é doloroso, mas é preciso começar a reagir, lutar, acreditar, confiar, pois é tudo o que podemos fazer. O aperto no peito nunca mais saiu, nunca mais foi embora. Aquela sensação de alívio que sentimos quando nada nos sobrecarrega a alma nunca mais senti, vivo aqui com este nó enrolado entre a garganta e o coração e pergunto-me se alguma vez vou voltar a viver sem ele. Talvez não, tenho que arranjar um nome para este nó, parece-me que vamos ser companheiros de vida.