segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

TEC 3 quarta parte

A história já vai longa e nem vos conto como tive que levar seringas com medicação, agulhas e acumuladores de frio para um concerto na fase de estimulação.
Bom, voltando a Novembro, ao dia 10 do ciclo fomos à IVI ver endométrio e folículo, colher sangue, o normal nestas andanças da infertilidade e das preparações para TEC. Como estava tudo OK, folículo a 18 e endométrio a 9, que é uma coisa rara, ficamos animados e apenas aguardando as análises que o confirmaram, mas só no dia seguinte. Pela primeira vez, como a consulta já foi no final da tarde demos o ovitrelle sem saber se estaria tudo OK para avançarmos para a TEC, mas no dia seguinte o Dr. Sérgio ligou a confirmar que estava mesmo tudo bem.
Foi um misto de uma alegria intensa, mas de um medo ainda maior. Era a nossa chance, a última e derradeira com a minha célula. Se queria que corresse bem? Claro, muito! Mas, confesso, que a paz que sentia com a ovodoação nesta fase era muito apaziguante, por vezes sentia uma alegria imensa só por estar a avançar e por de uma maneira ou de outra me sentir mais próxima da realização de um sonho. O maior.
No dia da transferência, exactamente um ano antes e à mesma hora aconteceu uma coisa complicada, mas acreditei que era hora de acontecer uma coisa boa. Fui a última transferência do dia, pude ficar tranquilamente no quarto e na maca a repousar. A transferência correu bem, sem "a bexiga mais cheia do mundo", mas as meninas que já andam nestas andanças há tanto tempo quanto eu, já não fazem muito caso das recomendações pré transferência, no que toca à água, ainda me lembro de na primeira e segunda transferência quase desmaiar pelo desconforto gigante na bexiga," naaaa... é muito tempo a virar frangos". Pedi ao Dr. Sérgio para fazer tudo o que, empiricamente, e sem prejudicar nada, pudéssemos fazer e além de ter feito aspirina fiz também o atosibano intravenoso. Ali na IVI, naquele quarto após a TEC, olhei para a janela e pensei: eu estou grávida, não disse nada ao meu marido, mas senti. Quando saímos e já a caminho de casa recebi o relatório no email e fui ver a foto do blastocisto. Bom, toda a esperança e cenas maravilhosas e esotéricas que sentira há momentos desapareceram, mas o que era aquilo? Uma pessoa lê tanto, vê tanta imagem! que já acaba por saber diferenciar entre um blastocisto "bonito" e um horrível e aquilo era horrível senhores! Já temos a mania que somos biólogos... e não somos! Desabafei com o meu marido que me tentou animar e assim tentei fazer, jantámos hamburguer com muita batata frita, como as americanas tanto falam, e depois de passar horas no Google percebi! A imagem que me mandaram, que colocaram no relatório, é a imagem pré descongelação, ou seja, antes de haver reexpansão e é por isso que ele não estava muito favorecido pobrezinho! Descansei. 
Fiquei em casa apenas dois dias e entretanto fui trabalhar sem que ninguém soubesse o motivo da baixa. Não contámosaa ninguém. Entre o D5 e o D6 comecei com as dores que tinha sentido e, sobre as quais já tinha escrito, nas transferências anteriores. Pensei: é o fim. Não consegui chorar, mas estava tão tão triste, como é natural. 
Uma semana depois da transferência, sem qualquer esperança ou expectativa positiva, comemorámos uma data importante para nós enquanto casal e partilhámos uma garrafa de vinho. Sabia que não tinha resultado,conheço o meu corpo e aí de quem se atreva a dizer o contrário (coitado do meu marido). 
No dia seguinte, quatro dias antes do beta, de manhã, ao colocar o projjefik, o colo do útero estava bem baixo como aconteceu, SEMPRE, em todas as transferências negativas e aí tive a certeza, por um lado agradeci ao meu corpo por me dizer a verdade, por outro mais uma confirmação que ninguém quer sentir quando falamos de algo que desejamos tanto. Fui trabalhar e ao final do dia quando tirei a farda olhei sem querer para o espelho à minha frente e pensei, a minha barriga está estranha. No mesmo segundo desviei o olhar e pensei que estupidez! Fiquei furiosa com a minha mente, como se atrevia a pregar-me partidas! Nesse dia, no caminho para casa, fui aflita de dores a conduzir, só pensava ainda bem que fui puxada novamente para a realidade, pois já estava a pensar: e se... 
Pensava também que precisava de parar o projjefik, para me vir o período e acabar com as malditas dores. Sem qualquer coragem para fazer um teste passei a noite em claro, pelas dores e pela tristeza, que nessa noite me invadiu. Perguntei tantas vezes porquê? Porquê? Porquê? 
De manhã ganhei coragem. Utilizei um teste one step,que tinha comprado há mais de um ano e não vi linha nenhuma. Passado alguns minutos começou a aparecer uma linha tão ténue, tão ténue que tinha imensa dificuldade em ver se realmente lá estava. Liguei ao meu marido, pedi-lhe para vir a casa, mostrei o teste e ele também viu a dita linha. Era uma gravidez bioquimica, claramente, estava no d9. Por aquela altura em situações normais já teríamos que ter uma linha mais escura. Estranhamente não fiquei triste, fiquei estupidamente feliz! Tinha conseguido qualquer coisa, após transferência de um embrião com alguma qualidade o meu corpo tinha feito qualquer coisa! Algum dia ia correr tudo bem! É incrível o quanto a hipótese de algo, ainda que não acreditasse mesmo que fosse correr bem, me deixava mais optimista. A mim e ao meu marido. 
No dia seguinte de manhã novo teste. Da mesma marca e, novamente, uma linha que mal se via. Estava confirmado. Era bioquímica, não havia aumento do beta, mas em casa estávamos contentes com aquela pequena conquista. O próximo passo seria fazer o beta e seguir o nosso plano. 
Na manhã seguinte fui ao laboratório, passei o dia tranquila, tomei benuron para as dores e à noite fui para a cozinha fazer o jantar sem pensar muito nas análises que entretanto já estavam no meu email. De repente, lembrei-me e fui à sala buscar o telemóvel. Estava curiosa. Qual seria o número daquela risca invisível, talvez 5 ou 10 ou 20 na loucura, mas sem o mínimo de pessimismo e sem achar que seria um problema esta simples gravidez bioquimica e sem nunca me passar pela cabeça que poderia ter um valor de beta normal. 
Fui à cozinha para abrirmos o email juntos. Quando abrimos, o valor que vimos foi inequívoco, não havia margem para dúvida... Aquele 341 Ui/L dizia que estava grávida. 

sábado, 8 de fevereiro de 2020

TEC 3 terceira parte (a estimulação)

Em Abril fomos a consulta, tivemos o ok, parei a pílula contínua, tive ciclo em Maio e após a menstruação, iniciei novamente a pílula, para preparar o início da estimulação. Ficou logo definido que não faria transferência a fresco, nunca me senti bem com transferências tão pouco tempo após punção, todo o stress desta fase e toda a inflamação abdominal pelos shots de estrogenio, a meu ver, não podem fazer bem. Foi esta a minha decisão que o médico aceitou,apesar de segundo ele não existirem motivos para não fazer transferência a fresco.
Entretanto fui tomando todos os suplementos que podia:
-açai uma colher de sopa por dia,
-600mg de coenzima q 10,
-gestacare pré concepcional,
-omega 3
-resveratrol,
-vitamina É,
-pycnogenol, acredito que estes também ajudaram um pouco na qualidade. Mas, para mim, o que acho que fez diferença foi não ter pedido tanto aos meus ovários. A estimulação foi "apenas" feita com Menopur 225 UI, ao invés das 300 UI de combinação de Gonal e Menopur que tinha feito nas duas FIV anteriores.
Não foi fácil, chegámos ao primeiro dia de foliculometria e tínhamos 4 ou 5 folículos e foi este número que nos acompanhou. Ao dia 9 de estimulação a consulta foi com o Dr. Samuel, que é um médico excepcional, tão simpático, tão humano e ele estava tão triste por nós e com os nossos números... Aconselhou-nos a ver como é que as coisas estavam em 2 dias, mas que estava com uma baixa resposta e não achava valer a pena avançar ou então valia a pena apenas fazer punção, congelar os ovócitos, voltar a estimular e depois levar todos a cultura para não estarmos a ir para uma cultura em laboratório que não ia dar em nada. Saímos de lá tão tristes, tão baralhados, tão confusos e tão desiludidos. Passados 2 dias nova visita à IVI e desta vez com o nosso Dr. Sérgio. Ele tem sempre a capacidade de nos fazer ver as coisas, de nos animar e de nos acalmar, dos 6 folículos que viu 4 estavam com o tamanho maduro ideal.  Não estava sequer a pensar em cancelar, recordou que a dose que fazíamos era mais baixa, que o que procuravamos era qualidade. Eu e o meu querido marido, depois de um fim de semana a matutarmos nisto, definimos a coisa da seguinte forma:se tivéssemos 5 avançavamos, se tivéssemos menos do que isso ficávamos por aqui. Pois é, o destino trocou-nos as voltas, eram 4 e agora ali, naquele momento, que faríamos? Iríamos pagar para ver? Foi mesmo isto que dissemos ao médico, vamos pagar para ver! Ele riu-se e disse que não era bem assim! Estavam lá 4! Com vontade de ver se este protocolo realmente nos traria algo de diferente assim fizemos, demos um salto de fé e esperámos pelo melhor.
Vivemos todo o processo com uma calma diferente, não quisemos ouvir falar dos embriões ao dia 3, não usámos embryoscope e, no dia 5 pós transferência, soubemos as novidades. Tínhamos um blastocisto expandido com alguma qualidade! Foi a primeira vez que alguém atribuiu alguma qualidade a um blastocisto nosso de quinto dia e a felicidade nesse dia foi gigante sentimos muita esperança, tanta! Sentimos que tudo tinha valido a pena!
No dia seguinte ainda esperávamos poder ter boas notícias, mas não, os outros não tiveram qualidade suficiente para serem congelados. Foi inevitável sentirmos alguma angústia. Só tínhamos um, era tudo ou nada.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

TEC 3 segunda parte

Chegou Novembro e trouxe consigo um novo ciclo e uma nova esperança, talvez à terceira fosse de vez! Já que o destino não considerou Setembro, nem Outubro, meses propícios para transferir congeladinhos. Tínhamos alguma fé neste blastocisto. Foi a primeira vez em 3 FIV/ICSI que obtivemos um embrião de quinto dia com alguma qualidade! E que vitória, que dia feliz! Olhando para a estimulação que o originou nunca diria que seria possível chegar até aqui.
Foi em Fevereiro de 2019 que entrei em contacto com o director da IVI Madrid, nunca por desconfiar das capacidades do Dr. Sérgio, que é excelente e reconhecido pelos seus colegas em Espanha e no mundo inteiro, com imensos trabalhos publicados. É um médico, mas também um ser humano excepcional. No entanto, por estarmos aqui neste recanto à beira mar plantado, por vezes, há certos tratamentos, certos desenvolvimentos científicos e da medicina que demoram um pouco mais a chegar aqui a esta nossa casa. Seja pela nossa "ruralidade" em relação ao resto da Europa, seja pelas burocracias que tanto nos caracterizam. A IVI em Portugal dizia, e muito bem, que considerando os meus resultados (que os do meu marido são excelentes) a minha melhor hipótese de ser mãe antes que a adenomiose também arruinasse o meu útero era a da doação. Eu concordei e percebi, mas não conseguia avançar. Não conseguia desistir dos meu gâmetas e foi o que escrevi no email ao Dr. Juan que, apesar de toda a confiança no meu médico, queria saber se haveria em Espanha algum desenvolvimento que me permitisse aumentar as minhas chances e, se fosse preciso ir a Madrid, assim faríamos. O Dr. Juan foi de uma amabilidade comparável à do Dr. Sérgio, mas fiquei tão surpreendida pelo seu interesse e pela sua pronta resposta, sempre enaltecendo as capacidades do Dr. Sérgio, que até me emocionei. Mostrei as fotos e os vídeos de desenvolvimento dos blastocistos que já tínhamos transferido,contei toda a nossa história, as medicações, respectivas doses que usámos em cada tratamento e passado alguma troca de emails perguntou-me se poderia contactar o nosso médico falar sobre o nosso caso para juntos desenharem um protocolo um pouco diferente para nós. Pedi autorização ao Dr. Sérgio, que poderia facilmente ter recusado por uma questão de ego ou de outra coisa qualquer. Mas não, foi extremamente amável e prontamente acedeu a discutir o nosso caso com o Dr. Juan. Algum tempo depois recebi uma chamada do Dr. Sérgio em que me explicou o protocolo. Estava a fazer pílula contínua e tive que parar e esperar a menstruação para podermos avançar e embarcar na FIV/ICSI número 3, que nunca pensei fazer, e que não estava no plano que em casal definimos quando a infertilidade entrou na nossa casa. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

TEC 3 primeira parte

Em Setembro de 2019 tínhamos pensado em transferir o nosso frostie. No entanto, o início da menstruação trocou-me as voltas e a eventual transferência iria calhar numa altura em que era completamente impossível consiliar com o trabalho, todo o stress que me iria trazer não podia fazer bem! Quem já esperou quase quatro anos pode esperar mais um mês, não é verdade? Sabemos que em termos psicológicos/emocionais não é bem assim! Esta decisão foi complicada, porque o meu grande objectivo era não passar mais um Natal sem esperança. Que parvoíce não é? E porque é que digo isto? Porque na minha cabeça era importante transferir o mais rápido possível, pois acontecendo o mais provável, ou seja, ter uma quinta transferência negativa queria ter o máximo de tempo para procurarem uma dadora e ter pelo menos uma luz de esperança no Natal de 2019.
Adiámos então, a transferência para Outubro, mas fui surpreendida por um ciclo curto a seguir a um ciclo longo e pensei: que maravilha era tudo o que precisava! Eu, que sempre fui certinha, agora tenho mais uma coisa para me preocupar! Como tínhamos que lidar com a imprevisibilidade deste ciclo, iniciámos a vigia ao sexto dia, com o Dr. Sérgio, e na eco tudo OK. Dois folículos, ainda sem dominante, com endométrio a crescer. Combinámos vigiar ao d10 e no d10 calhou-nos a Dra. Catarina por impossibilidade de agenda do meu médico. E qual allien não havia qualquer folículo! Que maravilha, que segurança senti no meu inútil sistema reprodutor. O endométrio estava OK e por isso íamos iniciar um protocolo que nunca tínha ouvido falar. Então, este protocolo seria em ciclo natural, mas sem induzir ovulação(não havia folículo!) , a progesterona iria imitar a produzida naturalmente após a ovulação e como o endométrio estava ok faríamos a transferência passado uma semana. Tudo bem, tudo bem... até que começámos a racionalizar e... não conseguimos avançar. Como assim, não havia folículo? Para onde tinha ido? O que se passa comigo, que apesar de tudo ovulo todos os meses?
A minha pélvis é extremamente difícil de perceber na eco e, nas estimulações quando não é o Dr. Sérgio a ver é para esquecer. Nem eu nem o meu marido nos sentimos confiantes nem confortáveis para avançar e mais uma vez, Outubro ainda não era o mês e a minha esperança de no Natal haver uma luz tinha desaparecido. Parece tolo, pois já passámos por muito, mas esta provação custou-me muito a ultrapassar. Liguei para imensos sítios para tentar marcar consulta de psicologia, mas estavam todos com agenda cheia, pensei em pedir baixa não estava a aguentar. Foi mais uma visita ao fundo do poço! Pedi à Dra. Catarina para fazer nova eco em alguns dias, só porque queria saber o que se passava com o meu corpo, era importante para mim. Nos dias a seguir à eco de d10 comecei com corrimento de ovulação e percebi que iria ovular em breve e na eco de d13 lá estava um folículo com 19mm...
Não perguntem porque é que não "havia" folículos e agora já havia... Não vos vou mentir não fiquei muito contente nem confiante. Senti que, se por algum motivo, o não fosse o meu médico a fazer-me as ecos estava bem lixada. Sei que não sou uma regra de 3 simples, somos todos humanos, que não é chegar ali e ver,que quase se benzem para tentar ver alguma coisa na amálgama que é a minha pélvis, mas tinha adiado um ciclo que quase de certeza não tinha sido necessário adiar. Mas siga para bingo afinal de contas aqui o extraterrestre ainda ovulava.