Ter endometriose, não significa ser infértil. Ter endometriose significa, em primeira instância, possuir um factor se sub-fertilidade. Sabemos, no entanto, que a endometriose é a principal causa de infertilidade feminina, e que 30 a 40% das portadoras apresenta dificuldade de engravidar.
Se a gravidez é o que mais almejamos ver um positivo num teste de farmácia acaba com todas as nossas preocupações? Sentimos que o objectivo, o que era difícil está feito, certo? Não.
Há 6 meses atrás, na minha cabeça, achava que a partir do momento que aquela risquinha aparecesse os meus problemas, relativos a este assunto, terminavam. Não.
Nesse dia há 6 meses atrás eu não fiquei feliz. Feliz na verdadeira acepção da palavra. Tive medo, mas muito medo.
Claro está, que me apaixonei de imediato pelo meu baguinho de arroz, amava-o tanto, pedi-lhe muitas vezes, agarra-te a mim, sei que o ambiente aí é hostil, mas tens que ser forte meu amor. O amor por uma coisinha ainda microscópica é imediato, aliás tenho para mim, que já amamos os nossos bébés muito antes de eles nascerem e muito antes de os termos no nosso ventre.
O dia em que sabemos do positivo, ao contrário do que eu pensava não é o dia em que a nossa batalha termina, é o dia em que uma batalha termina sim, mas que outra começa. Desde que sei que tenho endometriose que o objectivo é engravidar, conseguir uma gravidez, engravidar, engravidar, engravidar, como se tudo se resolvesse aí. Que ilusão!
Ao contrário do que eu imaginava os medos, as ameaças, não terminam aí, e iria aprendê-lo da pior forma possível.
Tinha dores, todos os dias das quase 6 semanas que o tive junto a mim. Apelidei o meu baguinho de arroz de bébé urtiga pelas dores que me provocava. Dores, sempre do lado esquerdo, seria ectópica? Mais uma preocupação acrescida de quem tem endometriose.
Fomos fazer o teste de sangue e beta baixinho, 109, para as quase 5 semanas de gravidez. No fundo do meu coração sabia que alguma coisa muito errada se passava. Fomos para as urgências da CUF, desvalorizaram o meu medo da ectópica, na ecografia não se via nada, o que com beta de 109 é normal e, disseram a verdade, não podemos fazer nada, o beta podia ser normal ou não, teríamos que ver como evoluiria o beta. Esperar 48h. Repetir o beta. Iria duplicar? Stress, ansiedade, noites mal dormidas com sonhos em que tudo corria bem, em que tudo corria mal... Enfim, um pequeno inferno. Beta baixou, 106, ectópica não é. Não é nada, e lá se foi o sonho.
Depois, a revolta. Que justiça é esta? Que mundo é este? Porque te tiraram de mim? Porque me fugiste? Porque não mereço que as coisas corram bem? Não bastava ter dificuldade em engravidar e agora isto? Que espécie de piada é esta?
Depois, tentar apaziguar, renascer das cinzas, voltar a tentar. E negativos atrás de negativos, mês após mês. E renascer, novamente, a cada mês do nada, alimentar a esperança mês após mês, agora com conhecimento de que o positivo é apenas o inicio.
Não há dia que passe que não me lembre que já estive grávida. G-R-Á-V-I-D-A ,eu! A sério! E não há vez que não chore quando digo isto. Que não me emocione e pense que naquele dia em que fui ali, em que fiz aquilo, eu estava grávida. Eu já tive a melhor coisa do mundo e, o Universo ou quem de direito, levou-ma. Mesmo tendo sido no início e mesmo a minha dor não se comparando a outras dores, nem lá perto, nem um bocadinho, há dores tão tão tão maiores... Mas, é a minha dor. E dói muito.