quarta-feira, 27 de julho de 2016

Antes de nascer, ainda no aconchego da barriga da minha mãe, Deus decidiu que ia dar um presente àquela menina! Não era ouro, nem prata, nem bronze. Era uma avó. Era a avó. Então Deus, deu-me um presente mais valioso que o ouro, que a prata e o bronze juntos, Deus deu-me a minha avó.
Naquele tempo o dinheiro não abundava e tive que ficar com ela ainda com meses de vida, os meus pais coitados vinham passar os fins-de-semana comigo, como loucos, cheios de saudades. Eu esperava contente por eles, mas nunca me faltou colo, amor, mimo, carinho, brincadeiras e um ou outro ralhete e palmada no rabo que só bem fizeram. Sempre fomos cúmplices, sei tudo, cada pormenor da vida dela, cada sorriso, cada piscar de olhos. Sem aquelas horas de conversa que tantas vezes tivemos antes de dormir (dormimos juntas até aos meus 12 anos) eu não seria a pessoa que sou, não seria tão rica. Não daria tanto valor ao amor, pois não conheceria a linda história de amor dela e do meu avô, e de como teve a sorte de casar com o único homem que amou, e como teve a maior tristeza da vida quando o perdeu precocemente. Com tanto para viver e com tanto para amar. Ninguém me atende o telefone como ela : então meu amor querido. Tanto mimo. Tanta doçura. Sei que sou o mundo dela, espero que ela saiba que também é muito muito do meu. É a minha boneca. Tem mais de 80 anos, é a pessoa mais activa fisicamente que conheço, a cabeça já não é a mesma, é o resultado da perda, da vida dura e por vezes amarga que teve. Agora, com esta idade, tem cancro. Cancro aos 80. Passar por esta montanha a esta idade, ficar sem o cabelinho, ficar sem uma maminha. Como se explica isto aos 80 anos? Vivem-se tempos tão difíceis, só não queria que ela sofresse, porque já sofreu tanto, a vida já lhe foi tão cruel.
Como se dá estímulo para lutar a uma pessoa na terceira idade com cancro?
Perto dela visto a armadura inatingível de ferro para lhe dar força e esperança. Em casa tenho chorado dia e noite.
Agora com o hipotiroidismo as tentativas para engravidar só podem recomeçar depois dos valores da tiróide estarem ok. Mas vou manter a consulta de 12 de agosto para ver se entro no ciclo das consultas e se consigo engravidar. Sei que era um estímulo muito grande para ela a chegada de um bisneto, mas na vida as coisas não são como nós queremos.
Estou sem dúvida a viver o pior ano da minha vida até ao momento.
Um beijinho para todas

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A infertilidade fica para segundo plano quando

...descobrimos que uma das pessoas mais queridas da vida, do mundo tem um nódulo na mama.
Vou andar afastada daqui,da infertilidade. Estou em piloto automático. Não sei como reagir,parece um pesadelo,mas nunca acordo dele.
Tenho que crescer mais um bocadinho, depressa.
Mesmo assim quero dar-lhe a alegria de poder pegar um bisneto ao colo, por isso não vamos desistir das consultas.
Estou a torcer por todas vós e irei continuar a acompanhar-vos

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Nice

O que aconteceu ontem em Nice é uma coisa tão triste, tão traumática, tão assustadora. É o começarmos a sentir medo de tudo e de todas. É tirarem-nos a nossa liberdade. O nosso sentimento de segurança e estabilidade.
É terror.

As minhas preces estão com as famílias das vítimas a quem a vida, e a vida conforme a conheciam foi roubada.

domingo, 10 de julho de 2016

The hubbie

O meu marido...
Pobre marido o que ele me atura.
Atura-me o choro, a fragilidade, a tristeza.
Atura-me a raiva, os porquês, atura-me a frieza e o falso pragmatismo.
Atura quando me queixo de tudo e mais alguma coisa.
Atura a minha falta de paciência.
Atura as minhas consultas, os meus exames, e o drama que os sucede.
Faz os seus próprios exames, constrangedores, desconfortáveis.
É o meu sócio lá em casa, faz o mesmo que eu, sem esperar que lhe agradeça, porque sabe que somos uma equipa.

E não reclama, não resmunga, nem me põe em causa uma única vez, gabo-lhe a paciência

O meu marido é o melhor marido do mundo, é a minha sorte grande, é tudo de bom nesta vida e eu sou a mulher com mais sorte do mundo, e ás vezes, muitas vezes, não me comporto como tal. 
Desculpa marido, vou  melhorar esta atitude e este feitiozinho insuportável, vou tentar ter mais calma, ser mais paciente, vou tenta viver ao invés de andar sempre triste e embirrante tipo"aborrecente" no auge dos auges. Vou sobretudo lembrar-me que isto não é só um problema meu, não sou só eu que ando triste por não conseguirmos ter um filho, tu andas tão ou mais triste do que eu e ás vezes esqueço-me disso. Na realidade tento esquecer-me, pois saber que eu sou o motivo dessa tristeza é um pouco mais do que consigo suportar.

Sem ti, viver isto tudo era mesmo impossível
Amo-te*

sábado, 9 de julho de 2016

Tantas vezes :)


Infertilidade #2

Podemos escrever e falar muito sobre infertilidade, esse aliás foi um dos objectivos, quando criei o blogue. Exorcizar e escrever sem medos, sem vergonhas e sem filtros o que me vai na alma. Tentar apaziguar esta dor que é tão forte, que é tão feia, que não sobra vontade de a partilhar com ninguém cara a cara, olho no olho, pois não quero pena e sei que não iria encontrar identificação e verdadeira compreensão. Esta dor sem beleza que vai endurecendo a alma, o espírito, as emoções, a pele e as feições. A dor da perda sem ter perdido, a dor da falta sem ter tido, a dor do amor que já se sente, mas que não se pode dar.

Podemos dar graças, todos os dia,s pelo que temos de bom nas nossas vidas, podemos e devemos. Mais, é a nossa obrigação agradecer por estar vivos, por amar, por ser amados, por ter presente nas nossas vidas os que amamos, por eles terem saúde, pelo sol brilhar, pelo mar ser azul, por existirmos. 

Temos o dever de acordar e dar graças a Deus, ou aos Deuses, ou ao céu, ao mar, ou a todos ou a nada. Ainda assim, esta dor não desaparece, não vai embora, tentamos mascará-la, escondê-la, colocá-la lá no fundo da gaveta, mas ela teima em estar lá, sempre a pairar. E ganha força em certos momentos, em momentos em que não devia mesmo aparecer. São momentos em que me sinto mesquinha e realmente triste não só com as circunstâncias que atravesso, mas também comigo mesma. Uma grávida, um carrinho de bébé. Porquê eu? Porque fui eu a escolhida?

Mas a infertilidade não é só uma coisa má. Devido à infertilidade e ao blogue, que surgiu por acréscimo, entraram na minha vida pessoas excepcionais, lutadoras, guerreiras à séria, mas também frágeis, humanas, sensíveis e que sem dúvida me percebem melhor do que qualquer pessoa, e  que não mereciam estar neste caminho. Estão a viver, a experienciar momentos muito semelhantes ao meus e sinto e sofro por elas, como sinto e sofro com a minha infertilidade. 
Acompanhamos resultados, momentos, tratamentos, festejamos, sofremos, ansiamos e choramos juntas, mesmo que distantes. Apoiamo-nos umas ás outras, como se nos conhecêssemos há anos e isso não é feio e mesquinho, é o lado bonito da infertilidade. Nunca pensei que existisse este lado, mas existe mesmo! Saber da gravidez de uma delas é uma lufada de ar fresco, é um dia bom, é um dia feliz, é esperança e força renovada. É sonho palpável, verdadeiro, mais próximo, mais perto.
Minhas queridas, estou sempre a torcer por vocês e quero agradecer-vos por estarem aí, pois sem vós estar nesta luta não seria impossível, pois o que nos move é imenso, mas seria mesmo muito mais difícil. 
Go girls! Praying for us*

quinta-feira, 7 de julho de 2016

As temíveis análises

Pois é
Desde que comecei a tentar engravidar, sabendo que tinha endometriose e já tendo sido operada a endometriomas nos dois ovários, que uma das coisas que mais temia era ter que fazer a anti-mulleriana. Costumava dizer que "tinham que me sedar", para esperar pelos resultados, cheguei a dizer isto ao Dr. Setúbal, ele deve pensar que sou maluquinha, também não se engana muito :D!
Voltando à dita! Sabia o que ela significava, sabia que era uma análise, que não sendo Deus a falar, pode querer dizer tudo, é certo que também pode não querer dizer nada.Um valor de 0,1 para mim seria assustador, como para qualquer pessoa.
No dia 28 de Junho fui fazer a bendita e estive sempre de coração nas mãos até saber o veredito. O grande objectivo para mim era ter um valor superior a 0,5.
O número mágico foi 1,6 ng/mL. Fiquei muito muito contente, ás tantas chego à IVI e dizem que é uma valente trampa, mas na ótica do utilizador,1,6 já deve dar para ter esperança num ou noutro ovócito jeitoso.
Mas, como nem tudo é bom, nem tudo é mau! Descobri nestas análises que que devo ter tiroidite de Hashimoto, uma das causas de hipotiroidismo e brevemente vou ao endocrinologista.
De Dezembro para cá, apanhei toxoplasmose e neste momento já estou imune, ou seja, mesmo que tivesse engravidado, poderia ter que abortar, não sei, mas teria sido muito complicado. Em Dezembro não era imune e agora já sou. Ás vezes Deus escreve mesmo por linhas tortas! Pelo menos, tento acreditar que sim.
Outra boa notícia é que o marido já fez espermograma e está impecável.

Enfim, estou a começar mais um ciclo, com dores e TPM ao rubro e aguardo pacientemente pela consulta de dia 12 de Agosto. Estou um pouco mais tranquila, com mais força e mais esperança no futuro. Mas continuo muito receosa e sem conseguir acreditar que um dia serei mamã, continuo sem acreditar que um dia conseguirei realizar o meu sonho.
Baby steps