quarta-feira, 31 de maio de 2017

Por um momento

Por um momento, permitam-me não ter fé. Por um momento, não me peçam para acreditar, para ter esperança, para me focar nas coisas boas.
Por um momento, não me digam que vai correr tudo bem.
Por um momento, deixem-me questionar, deixem-me perguntar: Porquê eu? Porquê a mim?
Por um momento deixem-me achar que eu não mereço este fim, este destino.

Depois, como sempre, vou levantar-me, vou voltar a lutar e vou mentir a mim própria com todas as letras e dizer que acredito e que vai correr bem.

A consulta de endometriose não só mostrou a adenomiose, o nódulo no ligamento útero-sagrado como o aparecimento de um nódulo no septo rectovaginal e um grande emdometrioma de 4cm, tudo com indicação cirúrgica. Endometrioma no ovário, no ÚNICO ovário que responde moderadamente à estimulação.  Cirurgia agendada em que mais um pedaço do meu ovário dos meus ovócitos se vai embora e com eles, mais um bocado de mim, da minha alma. Sinto-me um mutante, um ser do outro mundo que anda por aí com as mãos e os braços e a alma pendurada por finos fios.

E é assim o belo dia, em que todos os meus maiores sonhos vão por água abaixo. Estou farta de tentar ser forte e farta de levar com baldes de de água fria.
Permitam-me que hoje esteja assim por um momento.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

O dia que antecede uma consulta e ecografia com os especialistas da endometriose, é terrível em termos psicológicos.
Estou tão fartinha desta constante ansiedade.

Inspira, expira e não pira.

domingo, 28 de maio de 2017

O que vai cá dentro #6


Quando começámos a tentar engravidar já sabíamos que, em princípio, a coisa não iria ser fácil.
A cirurgia que abordou os dois ovários, a certeza que a minha reserva ovárica não tinha a mesma "idade" que eu e a endometriose com a sub-fertilidade associada, adivinhavam um cenário de dificuldades.
A gravidez bioquímica animou o meu marido, que dizia ser um bom presságio, se já tinha acontecido uma vez, seria um bom sinal, certo? Para mim nunca o foi, na realidade. 
Hoje em dia sei muito mais já li centenas de artigos e abstracts sobre a endometriose e seus efeitos nos ovários, na quantidade e qualidade dos ovócitos, sobre as técnicas de PMA que são mais eficazes com a endometriose, sobre as minhas hipóteses com a DO e etc.
Neste tempo todo sofremos muito, ansiámos e expectámos imenso, como diz a mylittlefairytale, olho para o espelho e neste ano e meio de tentativas falhadas sinto que envelheci imenso, sinto que empobreci a minha saúde, que não tive grande qualidade de vida, pois contam-se pelos dedos de "meia mão", os dias em que não pensei em infertilidade, em bebés e em gravidez. Não sei o que é viver sem pensar nisto nos dias que correm, e isso é uma grande tristeza, porque a vida é uma dádiva e com toda a certeza, não a tenho encarado assim, tenho sobrevivido dia após dia, apenas isso, sobrevivido.
Neste tempo todo aprendi, que apesar de saber desde os 24 que tenho endometriose, não estava preparada para isto, nem para estas dificuldades todas. Logo eu, que me preparo sempre para o pior e hoje agradeço por isso, por esta "santa ignorância".
Neste tempo todo as minhas ideias mudaram, evoluí um pouco, aceito outras opções que não aceitava ou com as quais convivia muito mal no início da caminhada, como o dinheiro que se gasta e a doação de ovócitos, tudo por um filho é mesmo tudo.
Neste tempo todo já fiz as coisas mais ridículas, já fingi não ver conhecidas que estão grávidas ou que passeiam os bebés orgulhosamente nos seus carrinhos, já fui a pé para casa porque perto de onde tinha o meu carro estacionado estava um casal de conhecidos com a sua recém nascida, já deixei de ir a jantares onde sabia que estavam grávidas, já "fugi" de uma colega que me ia dizer pessoalmente que estava grávida, porque tinha receio de desatar a chorar, e todo um outro conjunto de figuras tristes que me envergonham, mas que preciso fazer para me proteger um bocadinho.

Nesta consulta ouvi do médico tudo o que, linha por linha, mais temia:
- reserva ovárica muito baixa,
- ovócitos de má qualidade, que originam embriões de má qualidade,
- blastocisto de seis dias com menores possibilidades de implantação.
Nada, mesmo nada, é novidade para mim, mas ouvir isto, dói para caraças, não consigo evitar sentir que é uma enorme injustiça termos que passar por isto, não consigo mesmo. Acho que só vou deixar de acreditar quando esgotarmos os embriões de uma doação de ovócitos, até lá vou tendo esperança. É, sem dúvida, uma esperança mais comedida, mais racional e sem os meus "prazos", o engravidar aos 30, em 2017 , o poder dar um bisneto à minha avó antes dela partir, tudo isso está cada vez mais desvanecido. O que não desvanece é o sentimento de culpa de impedir que o meu marido seja pai, e de que os meus sogros sejam avós dos filhos do filho. O meu marido, por seu lado, continua a dizer que me tem a mim, e que não é o fim do mundo se não tivermos filhos, eu não acredito nisso e quando o vejo com crianças...

Por pior que tenha sido esta consulta, num qualquer sentido masoquista trouxe-me uma certa paz, não sei explicar porquê, talvez por aceitar cada vez mais e melhor a DO, não sei. Enquanto estamos à espera de quais serão os próximos passos, pois vai depender da consulta de 3ª feira, vou tomar alguns suplementos que may or may not melhorar a qualidade ovoctiária, nomedamente: ubiquinol, resveratrol, gérmen de trigo, maca e manter o matervita.

A infertilidade é uma guerra, com sangue suor e lágrimas, em sentido literal. Eu já levei com "muitas balas", não sou uma pessoa forte e corajosa, mas sei que esta merda não é para toda a gente e nós temo-nos aguentado por aqui, nuns dias melhor, noutros pior, mas a guerra é mesmo assim.


sexta-feira, 26 de maio de 2017

1a FIV/ICSI consulta de encerramento de ciclo

Hoje foi a consulta de encerramento deste primeiro ciclo de FIV/ICSI falhado.
A não implantação do blastocisto não quer dizer nada, o facto do blastocisto não ser maravilhoso não ajuda. Temos um de 6 dias mais bonito, mas tem seis dias, logo taxas menores de implantação. Mais difícil, não quer dizer impossível, mas no meu caso....enfim.
Os meus ovócitos são poucos e maus.  Os meus ovários estão podres, não servem para nadinha. O panorama deste ciclo pode ser o nosso padrão, ou não. Pode acontecer o mesmo, ou pior, noutro ciclo de FIV, ou podemos ter um ciclo melhor à nossa espera.
O médico não está preocupado com o spotting que iniciou 2 dias antes do beta, porque é muito frequente. Se tivesse aparecido antes aí sim tínhamos que nos preocupar. Ele não deu importância, diz que pode estar relacionado com a carga muito elevada de hormonas, que faz com que o endométrio não aguente a festa.
Vamos fazer a TEC , sem planos, um dia destes, após uma injecção intramuscular de decaptelyl, que vai acalmar a endometriose por estes lados, simulando uma menopausa com a duração de cerca de um mês. Vou, antes disto tudo, ao meu médico da endometriose fazer consulta+eco na próxima 3a feira. Vamos também fazer os cariótipos e ver como anda a minha tiróide.
O Dr. Sérgio foi impecável e paciente começou a falar e eu a fungar e não cheguei ao ugly crying, mas ainda derramei lágrimas suficientes para o Dr. me trazer um lencito. Ele é da opinião que não devemos partir já para DO e nós concordamos. Vamos fazer mais  um ciclo de FIV, pelo menos, se a TEC não resultar.
Nada de novo por aqui. Detesto voltar ao rol interminável de exames e esperas e resultados.
Tudo por um filho.

domingo, 14 de maio de 2017

Amar pelos dois

Para o meu embrião criopreservado :) :

"Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi para te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada para dar

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Se o teu coração não quiser ceder
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois"


Composição: Luísa Sobral




sexta-feira, 12 de maio de 2017

Ter esperança ou não ter esperança?

Ter esperança que um dia vou ter uma barriga como a das senhoras que vejo na rua e no supermercado, é difícil, sentir esta esperança é sentir, ao mesmo tempo, um aperto tão grande no peito que acho que até parece sufocar! Sentir que há, uma pequena possibilidade, de um dia segurar no colo um filho meu, de o sentir nos meus braços e de poder amá-lo ainda mais do que já o amo, de poder demonstrar todo este amor que já sinto deixa-me os olhos cheios de brilho e água salgada. É tão estranho amar antes de ter visto, amar antes de ter conhecido. É amor antes do amor à primeira vista!
Como pode o meu Deus privar-me de tanto amor, privar-me de vida.
Mas como é que se continua a ter esperança sem sofrer? A alternativa é não esperar nada? Como é que se faz o tão publicitado "pensar positivo", sem magoar bem fundo o meu peito e o meu coração? 
Parece "mais fácil" fingir que não se quer, ou fingir que se aceita, ou dizer que vou focar-me nas coisas boas e viver feliz com o que tenho, ou dizer que não acredito nem um bocadinho que vou engravidar e parir um bébé saudável e pronto, ou dizer que se vive bem sem esta vida na minha vida, sem esse amor quando à nossa volta somos constantemente lembrados da alegria que é ter um filho!

Fogo isto é mesmo difícil!

domingo, 7 de maio de 2017

Maio, o dia da mãe e o tempo que não pára

Mais um maio chegou.
Mais um maio, mês da mãe, mês de Maria, primeiro mês do sol mais quente.
Mais um maio em que tenho muito que agradecer. As "minhas mães", isto é, a minha avó e a minha mãe, estão à distância de um telefonema. Tenho-as com alguma saúde, mesmo ali com todo o colo, com todo o amor. E que presente! Que sorte e que bênção é ter a minha mãe.
Mais um maio em que comemoro este dia da mãe como filha, em que o facebook é inundado das novas mamãs que exibem, felizes, os seus rebentos. Também sou feliz, a minha vida está repleta de coisas e sobretudo de gente boa.
Mais do que um dia da mãe, é o passar de mais um maio que me custa. Lembro-me perfeitamente de maio de 2016 e custa-me perceber que está tudo na mesma ou um pouco pior. Em Maio de 2016 fui à primeira consulta de infertilidade e marquei a consulta da IVI. É duro acreditar que um ano já passou, que as rugas e a expressão cada vez mais cansada não perdoam, que a gordura vai acumulando pela inércia e pela depressão, que os cabelos brancos se multiplicam, que a vida e o tempo não param contra o meu desejo, contra a minha vontade. 
Maio não vai trazer o meu sonho, mas espero que me traga mais vontade. De viver.  De cuidar de mim.

Os últimos tempos

Após o negativo os primeiros dias foram um pouco difíceis. O investimento emocional, físico e monetário é pesado, por isso lidar com a desilusão torna-se complicado.
Nós fomos sempre tentando naturalmente, por isso somam-se meses e meses de desilusão, mas esta foi a mais pesada. Nunca tive altas expectativas, nem pensar, aconteceu-nos quase tudo neste tratamento. Desde poucos folículos, até à transferência praticamente cancelada. Foram dias de grande sofrimento, mas a seguir ao desfecho que este tratamento teve o que é difícil é viver nos primeiros dias que se seguem ao negativo. Arrancar. O que é dificil é arrancar! Vive-me muito tempo para aquilo, quando aquilo termina mal, vive-se para quê?  Para muita coisa é certo, vive-se para nós e para os que nos rodeiam, mas ao início, esta simples conclusão não é assim tão simples!
Depois de arrancar a vida voltou ao normal. Com mais medos devido à endometriose, ainda não fui fazer a consulta de encerramento de ciclo, por medo, por falta de vontade de entrar na clinica, porque entretanto estive de férias, mas tenho dores em sítios onde nunca tive e estou apavorada, para ser honesta. Não só não concretizo um sonho, como estou a dar cabo da minha saúde e da minha qualidade de vida.
Estou um pouco farta do universo e a minha fé, por muito que lute, vai desaparecendo um bocadinho mais a cada dia, por muito que me magoe e me custe dizê-lo/escrevê-lo. Neste mês a infertilidade esteve pouco presente (ao contrário da lembrança constante da endometriose), não houve testes de ovulação nem nada que se pareça. Desde há 5 dias começo com dores no peito, eu nunca tenho tensão mamária. Nunca... Nem com projjefik, nem nada de especial com o estrofem, só mesmo com o pregnyl. Na minha cabeça começou a ecoar um muito leve, mas incómodo, será? Porque nunca, em mês nenhum isto me aconteceu, tirando o mês em que engravidei. Claro que depois veio o spotting e tudo mais. O que quero dizer é: universo, eu precisava de lidar com esta porcaria no único mês em que não estava sequer a pensar nisto?  É uma coisa parva, um pensamento idiota, eu sei. A infertilidade é tão difícil, acho que às vezes qualquer coisinha já é demais
Dias difíceis esperam-me. Tinha imensa esperança que este ano fosse melhor, mas dia a dia essa esperança foge.