quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O meu luto, as minhas dúvidas, os meus medos

Acho que ainda não consegui concluir o meu processo de luto pelos meus genes, sinto uma enorme vontade de amar, de cuidar de um filho, mas o luto por nunca poder ter um filho biológico não está fechado. É-me difícil aceitar que nunca serei uma mulher igual ás outras, uma família igual ás outras. Sinto-me ridícula a escrever isto, acho um absurdo escrever isto, mas é o que me vem à cabeça, porque o padrão não é este, porque a ""normalidade"" não é esta.
A minha cabeça parece um turbilhão ora penso uma coisa, ora penso outra, está terrível e jamais avançarei sem certezas! Não quero desistir dos meus genes, que não são fantásticos, mas são meus e conhecidos, e o que conhecemos dá-nos segurança, mas ao mesmo tempo não posso submeter o meu corpo a outra estimulação brutal que tanto mal me faz e que não dá frutos, que não serve para nada. 
Preocupam-me horrores as questões de saúde, não consigo sair deste ponto, não consigo avançar. Como é que viverei na ignorância de não saber se o meu filho ou filha terá muito maiores probabilidades de imensas doenças que eu não conheço. Sabemos que há famílias com imensos casos de certos tipos de cancro, doenças cardiovasculares e por aí vai. Se for menina, como é que ela vai responder quando mais tarde lhe perguntarem se tem cancro de mama na família, mãe e avó materna? Como é que posso esconder uma coisa destas?
Não é uma questão de duvidar de amor, se eu pudesse adotar um bébé, iria ama-lo no primeiro instante, quanto mais um bébé nascido de mim. 
Também não vou mentir, dizendo que não gostaria de ver certas características muito marcantes na  minha família num filho meu, sou humana! Mas não é de todo a minha maior dúvida neste momento.
Não sei qual será o meu caminho, a dúvida permanece, mas cada vez é mais certo que sem a ajuda de outra mulher não poderei nunca concretizar o meu sonho, ou ter melhores hipóteses de o concretizar, será que esta dúvida me vai parar?

sábado, 22 de dezembro de 2018

TEC 2 transferência 4

Negativo.
A dias do Natal mais um negativo. Este parece mesmo uma faca no coração. Tem sido um ano terrível sem tempo para levantar, pela infertilidade e não só. Tem sido um combate de boxe, ainda a recuperar de um soco e já a levar outro.
Apesar de todos os baixos deste ano, e de não ter acreditado durante muitos dias, a partir de determinado momento fui mantendo a esperança que no Natal estaria grávida. É o quarto natal em modo vazio e ter que disfarçar a tristeza e a depressão não é tarefa fácil. Acreditei por momentos que nem tudo pode correr mal, mas afinal pode oh se pode.
De coração em frangalhos e barriga vazia receberei convidados em minha casa e não sei bem como vou arranjar forças, quando só queria estar sozinha no meu canto. Tenho a certeza que apesar de todas as minhas falhas e defeitos, não mereço isto. Sinto uma dor e uma revolta enorme. Sinto-me a lutar contra a maré, acho que isto já é mais do que embriões sem qualidade. Não fui feita para ser mãe, e ainda não sei como viver com este facto.