terça-feira, 14 de novembro de 2017

O que vai cá dentro #8

Acertando pontos na minha cabeça.
Quando ganhei coragem de nos submeter a esta TEC, sim coragem, é preciso coragem, para enfrentar cada etapa dos meus problemas ginecológicos e da consequente infertilidade, tinha um grande medo de não passarmos da descongelação. Melhor, para mim era certo que o nosso pequeno guerreiro não iria passar da descongelação, porque afinal de contas é um processo muito agressivo para um microscópico embrião. Apesar da minha área de formação ser a das ciências, não consigo deixar de achar este processo um verdadeiro milagre!
Na manhã da descongelação o meu marido, à semelhança do que aconteceu na ICSI, levou o meu telemóvel e acabou por ser ele a ligar para a IVI, para saber o que se passava, dado que estranhávamos a ausência de notícias.  Ficámos espantados quando nos disseram que tínhamos um bonequinho de neve "vivo" e de boa qualidade, claro que é um B, portanto boa qualidade para um B e de 6º dia, mas até estava bonito! Confesso que aqui senti muita esperança! Da outra vez o nosso "cisto" era um bocadinho feio, benza-o Deus, apesar de ser muito muito amado, muito desejado e muito nosso e de ter sido fulcral na nossa vida, pois sem ele tinha sido terrível suportar um ciclo sem transferência. A verdade é que nunca senti a esperança que senti naquela sexta-feira. Seguimos para Lisboa, e a transferência fez-se, bebi apenas dois copos de água, mas custou-me muito, mais uma vez, aguentar a bexiga, para a próxima só beberei um copo de água. A pressão que a assistente do Dr. fazia na bexiga com a sonda do ecógrafo, fez-me em determinada altura morder o dedo, para vocês perceberem ao que me refiro! No final da transferência, o meu marido perguntou ao médico o que achava, em termos de hipóteses, deste embrião para o outro e aí, puff! Chapadão mesmo em cheio de volta à realidade! O médico disse que apesar de morfologicamente mais interessante, este blastocisto tinha demorado mais um dia a chegar a este estado, logo não haveria grandes diferenças em termos de taxas de sucesso. Balde gigante de água fria, mas, claramente, necessário.
Consegui apenas cerca de vinte minutos de repouso, contados pelo relógio, aquelas mudanças todas de mesa de cirurgia para maca e de maca para cama na IVI deviam ser revistas, aquilo não pode ser bom! Eu sei lá fazer força com os cotovelos para mudar de um sitio para o outro, acho que faço força na barriga e, ao contrário do que se pensa muitos embriões não ficam no útero após a transferência, é um jogo de probabilidades  (Mansou, R., Minimizing embryo expulsion after embryo transfer: a randomized controlled study, Human Reproduction, Volume 20, Issue 1, 1 January 2005, Pages 170–174).
No dia da transferência e no dia seguinte senti real desconforto uterino e ovárico, que desapareceu por completo. Aguardo mais uma vez o beta em casa. Devido ás características do meu trabalho, não posso trabalhar a seguir a uma transferência de embrião e tenho muito mais tempo para pensar, o que não pode ser bom. Sábado e domingo já vou trabalhar e na segunda-feira faço o beta. O terrível é este sentimento, a certeza que tudo por esta altura está decidido,e que em momento algum há ou houve alguma coisa que pudesse fazer. Esta sensação de impotência e ver o sofrimento que a minha doença me causa não só a mim, mas ao meu marido não é nada fixe. Eu sei que não tenho culpa de ter endometriose, mal seria, mas esse reconhecimento  não torna as coisas mais simples, mais fáceis.
Tento pensar positivo, mas vejo as coisas muito complicadas, pois é certo que foi apenas a primeira FIV, mas não é certo que haja uma segunda, é até bastante provável que havendo uma segunda não haja embriões para transferir, com toda a certeza não existirá uma terceira e nessa altura teremos a doação de ovócitos como opção, se Deus quiser!
Por enquanto, vou então fazendo isso do tentar pensar positivo, que é uma coisa muito em voga, embora o sexto sentido me diga que não adianta, acho que uma mulher sabe... Tentando ver além da infertilidade, tudo o que a vida nos reserva! Ontem à noite quando passeava a cadela, senti o frio no rosto e o cheiro de lenha a arder vinda de algumas chaminés, que logo me levou para o Novembro passado e para a maravilhosa Praga, para o quanto fomos felizes lá, para o cheiro do vinho e da cidra quente e do trdelnik acabado de fazer, porque há vida e felicidade além da infertilidade,desde que haja amor e isso felizmente não falta cá em casa!

8 comentários:

  1. Dream como eu te compreendo... em várias coisas que escreves (e maravilhosamente bem). As transferências também são muito desagradáveis para mim. Nas duas primeiras sofri horrores por causa da bexiga... na IVI a Dra. C. queria augaliar-me (não sei se estará bem escrito) para veres o meu sofrimento. Maricas como sou, não consegui pensar em espetarem-me uma agulha na bexiga, enfim... sofri mesmo muito. Na última não me preocupei nada, só os nervos são suficientes para encherem-me a bexiga e foi muito, mas muito mais fácil. Infelizmente vamos aprendendo com a experiência...

    Na Clínica AB utilizam um método muito mais confortável para passar da marquesa para a maca, é uma coisa qualquer oriental mas o certo é que nem nos mexemos, as assistentes é que fazem tudo.

    Também compreendo que estejas a racionalizar para, caso o desfecho não seja o desejado, não sofreres tanto. Eu sou exatamente igual. Mas sabes que mais? Não adianta nada... é mau na mesma. Daí tenta manter-te positiva. Nada está perdido.

    Ao contrário de ti, após a transferência não posso passear o meu cão. É um Sharpei e não tem um comportamento exemplar a andar de trela, ainda é um criançola e faço sempre algum esforço, portanto evito fazê-lo. E custa-me tanto...primeiro porque adoro fazê-lo (o meu cão é tão importante na minha vida...) e segundo porque o meu marido trabalha imenso só chega a casa sempre depois das 21h (isto quando não faz urgência à noite) e o cãozinho fica à espera, coitadinho. A minha casa tem terraço com relva artificial, ele não precisa necessariamente de ir à rua, mas é o ponto alto do dia dele.

    A infertilidade faz parte da nossa vida, da nossa rotina. Mas felizmente não é tudo. Agora vá... pensamento positivo! Pode muito bem ser desta que te despedes desta treta toda.

    Beijinho
    (já te distraíste um bocadinho com este longo texto ehehe)

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  2. Já vi que também sofres imenso, da próximafaço igual, realmente bastam os nervos para me encher a bexiga, sem dúvida! Da primeira vez bebi 3 copos de água, desta vez bebi dois e foi quase igualmente terrível1
    Agrada-me esse método oriental, talvez valesse a pena as meninas da IVI terem uma formaçãozita nessa área, não acho aquilo muito boa ideia, eu não sou nada coordenada, não faço ideia onde fazer força, é uma loucura!
    A minha cadela passeia sem trela, é muito obediente e por isso posso passeá-la sem problema, também já tem mais uns aninhos, em cachorros são um poço de energia, é bom sinal, sinal de saúde!
    Beijinho e sim, já me distraí um bocadinho :D

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  3. Dream também ficava sempre a pensar que os embriões se iam embora logo a seguir. Até escrevi sobre isso num post. Lol
    Ai como eu quero que esse bonequinho fique aí no forninho! Sabes que torço muito por ti, ou melhor, por todas!
    Beijinho

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  4. Também sofri imenso para aguentar a bexiga. Aqueles 20 min pareceram-me 3h, ainda gritei com o meu marido que apenas me tentava distrair. Confesso que assim que ele me disse que tinham passado os 20 min "saltei" da cama e arrependi-me de seguida achando que devia ter "deslizado", mas não foi possível! Li que em várias clínicas dos EUA deixam as mulheres ir imediatamente à casa de banho e que não faz diferença, sinceramente não sei se o sofrimento de aguentar aqueles 20 min compensa. Às vezes acho que, em grande parte, os médicos operam às apalpadelas, por tentativa e erro. A verdade é que não sabem explicar a razão pela qual, nas mesmas condições, para umas pessoas funciona e para outras não.
    Depois da TEC não fiz qualquer repouso. O meu trabalho é de secretária e como ando "afastada" do ginásio, não faço grandes esforços no dia-a-dia.
    Tremo só de pensar em fazer o exame de sangue na 6f... já marquei cabeleireiro para sábado e vou dar um jantar cá em casa para garantir que vou estar distraída.
    A infertilidade tem sido um peso na nossa vida, mas mais para mim do que para o meu marido. Não só porque são as mulheres que, naturalmente, sentem o processo de forma mais directa, mas, no meu caso concreto, porque o meu marido é super positivo e acredita piamente que vai acontecer, mais tarde ou mais cedo. Eu também espero que sim, mas não consigo encarar tudo com a mesma descontração que ele. No entanto, a força dele dá-me algum alento, assim como me dá alento a certeza de que somos muito felizes a 2. É nessa felicidade que me foco (ou tento focar), nos planos a 2, nas férias, na nossa casa. Bjs Andreia

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    1. Fazes muito bem em fazer planos para depois, para o dia a seguir,a vida continua, mas acredito que vai continuar muito melhor, vais ver!

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    2. Andreia o teu marido é como o meu... nem depois de tudo que já passamos ele dúvida que vai acontecer. Até acha que tem corrido tudo dentro do previsto até aqui... nem o aborto o abalou. Por vezes acho ridículo ele pensar assim, mas a verdade é que é esse positivismo dele que me ajuda a continuar.

      Beijinho e boa sorte para sexta-feira

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  5. Pensar positivo não é fácil mas às vezes não ter expectativas positivas ou negativas, saber que não há nada que possa fazer ajuda-me a manter a calma... Há muita coisa que foge ao nosso controlo, aliás a maioria das coisas nesta luta de ter um filho (e de estar grávida também) é uma incógnita e a verdade é que desde que aceitei que há muita coisa que não posso prever e prevenir que me tem ajudado nalguns percalços...
    Força! Respira fundo e que dia 20 seja um dia muito feliz é o que tenho desejado!

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