domingo, 28 de maio de 2017

O que vai cá dentro #6


Quando começámos a tentar engravidar já sabíamos que, em princípio, a coisa não iria ser fácil.
A cirurgia que abordou os dois ovários, a certeza que a minha reserva ovárica não tinha a mesma "idade" que eu e a endometriose com a sub-fertilidade associada, adivinhavam um cenário de dificuldades.
A gravidez bioquímica animou o meu marido, que dizia ser um bom presságio, se já tinha acontecido uma vez, seria um bom sinal, certo? Para mim nunca o foi, na realidade. 
Hoje em dia sei muito mais já li centenas de artigos e abstracts sobre a endometriose e seus efeitos nos ovários, na quantidade e qualidade dos ovócitos, sobre as técnicas de PMA que são mais eficazes com a endometriose, sobre as minhas hipóteses com a DO e etc.
Neste tempo todo sofremos muito, ansiámos e expectámos imenso, como diz a mylittlefairytale, olho para o espelho e neste ano e meio de tentativas falhadas sinto que envelheci imenso, sinto que empobreci a minha saúde, que não tive grande qualidade de vida, pois contam-se pelos dedos de "meia mão", os dias em que não pensei em infertilidade, em bebés e em gravidez. Não sei o que é viver sem pensar nisto nos dias que correm, e isso é uma grande tristeza, porque a vida é uma dádiva e com toda a certeza, não a tenho encarado assim, tenho sobrevivido dia após dia, apenas isso, sobrevivido.
Neste tempo todo aprendi, que apesar de saber desde os 24 que tenho endometriose, não estava preparada para isto, nem para estas dificuldades todas. Logo eu, que me preparo sempre para o pior e hoje agradeço por isso, por esta "santa ignorância".
Neste tempo todo as minhas ideias mudaram, evoluí um pouco, aceito outras opções que não aceitava ou com as quais convivia muito mal no início da caminhada, como o dinheiro que se gasta e a doação de ovócitos, tudo por um filho é mesmo tudo.
Neste tempo todo já fiz as coisas mais ridículas, já fingi não ver conhecidas que estão grávidas ou que passeiam os bebés orgulhosamente nos seus carrinhos, já fui a pé para casa porque perto de onde tinha o meu carro estacionado estava um casal de conhecidos com a sua recém nascida, já deixei de ir a jantares onde sabia que estavam grávidas, já "fugi" de uma colega que me ia dizer pessoalmente que estava grávida, porque tinha receio de desatar a chorar, e todo um outro conjunto de figuras tristes que me envergonham, mas que preciso fazer para me proteger um bocadinho.

Nesta consulta ouvi do médico tudo o que, linha por linha, mais temia:
- reserva ovárica muito baixa,
- ovócitos de má qualidade, que originam embriões de má qualidade,
- blastocisto de seis dias com menores possibilidades de implantação.
Nada, mesmo nada, é novidade para mim, mas ouvir isto, dói para caraças, não consigo evitar sentir que é uma enorme injustiça termos que passar por isto, não consigo mesmo. Acho que só vou deixar de acreditar quando esgotarmos os embriões de uma doação de ovócitos, até lá vou tendo esperança. É, sem dúvida, uma esperança mais comedida, mais racional e sem os meus "prazos", o engravidar aos 30, em 2017 , o poder dar um bisneto à minha avó antes dela partir, tudo isso está cada vez mais desvanecido. O que não desvanece é o sentimento de culpa de impedir que o meu marido seja pai, e de que os meus sogros sejam avós dos filhos do filho. O meu marido, por seu lado, continua a dizer que me tem a mim, e que não é o fim do mundo se não tivermos filhos, eu não acredito nisso e quando o vejo com crianças...

Por pior que tenha sido esta consulta, num qualquer sentido masoquista trouxe-me uma certa paz, não sei explicar porquê, talvez por aceitar cada vez mais e melhor a DO, não sei. Enquanto estamos à espera de quais serão os próximos passos, pois vai depender da consulta de 3ª feira, vou tomar alguns suplementos que may or may not melhorar a qualidade ovoctiária, nomedamente: ubiquinol, resveratrol, gérmen de trigo, maca e manter o matervita.

A infertilidade é uma guerra, com sangue suor e lágrimas, em sentido literal. Eu já levei com "muitas balas", não sou uma pessoa forte e corajosa, mas sei que esta merda não é para toda a gente e nós temo-nos aguentado por aqui, nuns dias melhor, noutros pior, mas a guerra é mesmo assim.


5 comentários:

  1. Percebo o teu sentimento ao veres o teu marido com crianças, percebo mesmo... quase custa mais do que toda a dor física que se passam nestes processos e com a endometriose...
    Os suplementos mal não fazem e também andei a averiguar medicina tradicional chinesa... Na pior das hipóteses não fará diferença mas se fizer é fantástico!

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    1. Custa muito, mas muito mais do que a dor física, que tal como tu conheço muito bem, dor pélvica diária desde 2009 é só um pequeno exemplo mas nada que se compare à outra dor.
      É isso mesmo eu vou tomar rezo para que resulte, em ratinhas de laboratorio resulta :)

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  2. Só para deixar um beijinho e um desejo que tudo vos corra bem. :*

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  3. Não tenho endometriose mas todo o texto parecia de resto escrito por mim. Exactamente a mesma dor de ver a minha avó à espera de um bisneto e o meu marido a fingir que não se importa se não for pai. Sinto cada palavra tua e até chorei... força. No fim tudo vai dar certo, seja qual for o resultado. Um abraço

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