O segundo
trimestre não trouxe descanso nas dores, mas a barriga a crescer era uma
alegria! Mal podia esperar para que não houvesse dúvidas que aquela barriga era
de grávida, nunca me senti tão bonita, tão orgulhosa! Os enjoos passaram, e a
comida passou a ter outro encanto, mas sem grandes desejos, excepto a
predilecção por comidas envinagradas e mil folhas! Se isto tudo era verdade, o
medo, o pânico que este sonho fugisse, deixasse de existir ou que algo não
estivesse bem consumia os meus dias, ainda mais quando continuava com o meu
exigente trabalho! Muitas vezes o trabalho já não era o meu escape, mas mais um
motivo de ansiedade. As dores que não melhoravam, o facto de sentir que podia
estar a fazer mal ao meu bebé, o cansaço que começava a aparecer, levaram - me
para casa às 16 semanas. Fiquei triste quando fui buscar a baixa, ler que a data
do seu término era em Agosto e tínhamos acabado de iniciar o mês de Março.
Senti-me um pouco inútil,pois desde que terminei o curso trabalhei sempre...
Foi por esta altura que na consulta de obstetra, às quase 17 semanas,que nos deram quase a certeza de ser uma
menina, nessa consulta em que ficámos tão felizes, não fazíamos a mínima ideia
de que seria a última consulta em que iríamos os dois e o último passeio no
Colombo após uma consulta, pois a pandemia já tinha chegado e uma ou duas
semanas mais tarde é declarado o estado de emergência. Hoje vejo que foi uma
bênção podermos saber os dois ao mesmo tempo que íamos ter uma menina! Com o
estado de emergência o marido ficou mais tempo em casa, o que acabou por ser
bom, pois não me sentia tão sozinha. No último dia de Março fizemos a ecografia
morfológica, a mais importante, não sem antes esta ser desmarcada a dois dias de
se realizar por ter havido um caso de covid na clínica, felizmente, e com algum
stress e esforço e tendo de abdicar do médico que tínhamos escolhido e em quem
confiávamos,lá conseguimos marcar. Tivemos uma alegria enorme ao saber que
estava tudo bem com a nossa menina. Mas, a pandemia roubou ao pai o gosto e o
prazer de estar presente. Ansioso esperava por mim á porta da clínica assim que o vi assenei que estava tudo bem e corri emocionada para os braços do emocionado papá!
Falemos da pandemia e do que ela roubou. A gravidez é vivida intensamente
pela maioria dos casais. Nós, que esperámos 4anos por ela, não fomos excepção,
claro, e a pandemia roubou-nos e roubou-nos tanto! Ninguém da minha família à
excepção dos meus pais e avó me viu grávida,e viram-me pouquíssimo, não pudemos
estar os dois nas consultas e na maioria das ecografias, não pude escolher
praticamente nada numa loja, queria tocar nas coisas, nos tecidos, queria exibir
o barrigão como tanto sonhei, queria passear e nada foi possível, agora olhando
para trás acho que me sinto mais assaltada agora do que naquela altura, pois naqueles tempos só queria
mesmo era que ela estivesse bem. A entrada no terceiro trimestre fez com que as
dores acalmassem o que me permitiu ter uma qualidade de vida
superior,permitiu-me preparar o ninho, lavar e passar as roupinhas, com a ajuda
da minha mãe e sonhar com a vinda da minha querida bebé. No entanto, esta bebé
queria dificultar a vida dos papás até ao final! Comecei a senti-la bastante
tarde e ela mexia muito pouco,o que me fez apanhar grandes sustos e ir às
urgências algumas vezes. Foi medo de a perder até ao último dia, medo que o meu
corpo incompetente não lhe valesse. No fundo, apesar de todos os momentos de dor
forte, de medo que vivi, apesar dos sustos que apanhei com esta bebé que estava
muito zen e sossegada, posso dizer que adorei estar grávida, a minha felicidade
quando sentia o seu pontapé,quando sentia os seus movimentos era imensa e fazia
com que todos os problemas do mundo desaparecessem. A minha bebé estava ali,
havia vida dentro de mim e isso era o que bastava para ser a pessoa mais feliz
do mundo!
Sem comentários:
Enviar um comentário