A história já vai longa e nem vos conto como tive que levar seringas com medicação, agulhas e acumuladores de frio para um concerto na fase de estimulação.
Bom, voltando a Novembro, ao dia 10 do ciclo fomos à IVI ver endométrio e folículo, colher sangue, o normal nestas andanças da infertilidade e das preparações para TEC. Como estava tudo OK, folículo a 18 e endométrio a 9, que é uma coisa rara, ficamos animados e apenas aguardando as análises que o confirmaram, mas só no dia seguinte. Pela primeira vez, como a consulta já foi no final da tarde demos o ovitrelle sem saber se estaria tudo OK para avançarmos para a TEC, mas no dia seguinte o Dr. Sérgio ligou a confirmar que estava mesmo tudo bem.
Foi um misto de uma alegria intensa, mas de um medo ainda maior. Era a nossa chance, a última e derradeira com a minha célula. Se queria que corresse bem? Claro, muito! Mas, confesso, que a paz que sentia com a ovodoação nesta fase era muito apaziguante, por vezes sentia uma alegria imensa só por estar a avançar e por de uma maneira ou de outra me sentir mais próxima da realização de um sonho. O maior.
No dia da transferência, exactamente um ano antes e à mesma hora aconteceu uma coisa complicada, mas acreditei que era hora de acontecer uma coisa boa. Fui a última transferência do dia, pude ficar tranquilamente no quarto e na maca a repousar. A transferência correu bem, sem "a bexiga mais cheia do mundo", mas as meninas que já andam nestas andanças há tanto tempo quanto eu, já não fazem muito caso das recomendações pré transferência, no que toca à água, ainda me lembro de na primeira e segunda transferência quase desmaiar pelo desconforto gigante na bexiga," naaaa... é muito tempo a virar frangos". Pedi ao Dr. Sérgio para fazer tudo o que, empiricamente, e sem prejudicar nada, pudéssemos fazer e além de ter feito aspirina fiz também o atosibano intravenoso. Ali na IVI, naquele quarto após a TEC, olhei para a janela e pensei: eu estou grávida, não disse nada ao meu marido, mas senti. Quando saímos e já a caminho de casa recebi o relatório no email e fui ver a foto do blastocisto. Bom, toda a esperança e cenas maravilhosas e esotéricas que sentira há momentos desapareceram, mas o que era aquilo? Uma pessoa lê tanto, vê tanta imagem! que já acaba por saber diferenciar entre um blastocisto "bonito" e um horrível e aquilo era horrível senhores! Já temos a mania que somos biólogos... e não somos! Desabafei com o meu marido que me tentou animar e assim tentei fazer, jantámos hamburguer com muita batata frita, como as americanas tanto falam, e depois de passar horas no Google percebi! A imagem que me mandaram, que colocaram no relatório, é a imagem pré descongelação, ou seja, antes de haver reexpansão e é por isso que ele não estava muito favorecido pobrezinho! Descansei.
Fiquei em casa apenas dois dias e entretanto fui trabalhar sem que ninguém soubesse o motivo da baixa. Não contámosaa ninguém. Entre o D5 e o D6 comecei com as dores que tinha sentido e, sobre as quais já tinha escrito, nas transferências anteriores. Pensei: é o fim. Não consegui chorar, mas estava tão tão triste, como é natural.
Uma semana depois da transferência, sem qualquer esperança ou expectativa positiva, comemorámos uma data importante para nós enquanto casal e partilhámos uma garrafa de vinho. Sabia que não tinha resultado,conheço o meu corpo e aí de quem se atreva a dizer o contrário (coitado do meu marido).
No dia seguinte, quatro dias antes do beta, de manhã, ao colocar o projjefik, o colo do útero estava bem baixo como aconteceu, SEMPRE, em todas as transferências negativas e aí tive a certeza, por um lado agradeci ao meu corpo por me dizer a verdade, por outro mais uma confirmação que ninguém quer sentir quando falamos de algo que desejamos tanto. Fui trabalhar e ao final do dia quando tirei a farda olhei sem querer para o espelho à minha frente e pensei, a minha barriga está estranha. No mesmo segundo desviei o olhar e pensei que estupidez! Fiquei furiosa com a minha mente, como se atrevia a pregar-me partidas! Nesse dia, no caminho para casa, fui aflita de dores a conduzir, só pensava ainda bem que fui puxada novamente para a realidade, pois já estava a pensar: e se...
Pensava também que precisava de parar o projjefik, para me vir o período e acabar com as malditas dores. Sem qualquer coragem para fazer um teste passei a noite em claro, pelas dores e pela tristeza, que nessa noite me invadiu. Perguntei tantas vezes porquê? Porquê? Porquê?
De manhã ganhei coragem. Utilizei um teste one step,que tinha comprado há mais de um ano e não vi linha nenhuma. Passado alguns minutos começou a aparecer uma linha tão ténue, tão ténue que tinha imensa dificuldade em ver se realmente lá estava. Liguei ao meu marido, pedi-lhe para vir a casa, mostrei o teste e ele também viu a dita linha. Era uma gravidez bioquimica, claramente, estava no d9. Por aquela altura em situações normais já teríamos que ter uma linha mais escura. Estranhamente não fiquei triste, fiquei estupidamente feliz! Tinha conseguido qualquer coisa, após transferência de um embrião com alguma qualidade o meu corpo tinha feito qualquer coisa! Algum dia ia correr tudo bem! É incrível o quanto a hipótese de algo, ainda que não acreditasse mesmo que fosse correr bem, me deixava mais optimista. A mim e ao meu marido.
No dia seguinte de manhã novo teste. Da mesma marca e, novamente, uma linha que mal se via. Estava confirmado. Era bioquímica, não havia aumento do beta, mas em casa estávamos contentes com aquela pequena conquista. O próximo passo seria fazer o beta e seguir o nosso plano.
Na manhã seguinte fui ao laboratório, passei o dia tranquila, tomei benuron para as dores e à noite fui para a cozinha fazer o jantar sem pensar muito nas análises que entretanto já estavam no meu email. De repente, lembrei-me e fui à sala buscar o telemóvel. Estava curiosa. Qual seria o número daquela risca invisível, talvez 5 ou 10 ou 20 na loucura, mas sem o mínimo de pessimismo e sem achar que seria um problema esta simples gravidez bioquimica e sem nunca me passar pela cabeça que poderia ter um valor de beta normal.
Fui à cozinha para abrirmos o email juntos. Quando abrimos, o valor que vimos foi inequívoco, não havia margem para dúvida... Aquele 341 Ui/L dizia que estava grávida.